terça-feira, 7 de agosto de 2007

Café com leite e água tônica

(Colaboração especial de Mr. Peanut, o jovem mancebo no Clube das Luluzinhas)

Ele odiava café, mas tomaria quantas xícaras fossem necessárias pra ouvir dela mais um “o senhor deseja alguma coisa?”
“Idiotices românticas”, pensava. Francamente, aos 58 anos já não se têm mas esse tipo de comportamento. Imagine! Arranjar desculpas furadas pra encontrar... não! Nem chega a ser encontro! Pra ver – isso, apenas ver – uma garçonete de cafeteria.
Ok, provavelmente a maioria das mulheres devem pensar: “que velho safado! Nessa idade, atrás de garçonete! Deve ser algum daqueles tarados que falam aquelas merdas pra qualquer bunda feminina que passa pela frente”. Não, definitivamente, Seu Inácio não se encaixava nesse currículo. Ele foi casado – e por longos 32 anos. Não é todo mundo hoje em dia que pode dizer isso. Ainda mais nesses tempos de “ficar” que esses jovens vadios inventaram. Não, não era obsessão nem taradices que o levavam periodicamente para aquela cafeteria.
Ele começava a desconfiar que fosse paixão.
Bem, paixão ou não, a verdade era que Inácio não iria mais para a bendita cafeteria apenas para ver a Gysele (isso mesmo, com “y”. Ela era especial até no nome). Não senhor, hoje ele iria conversar com ela. Mas como é que se galanteia uma jovem nesses tempos modernos? “Ah meu deus! ‘Galanteia`? eu sou antigo até no conceito!”, lastimava-se.
No fundo da xícara da sua alma, lá onde está a borra com aquele restinho de açúcar que não dissolveu, Inácio sabia que era uma missão suicida. Sabia que Gysele jamais trocaria qualquer rapaz da sua idade por um velho magro e acabado. Ele se sentia um Dom Quixote, indo lutar contra moinhos de vento que se manteriam incólumes, sem mover um centímetro do lugar.
Pois que assim seja.
Botou a melhor roupa que tinha. Calça jeans, pra parecer jovem. Camisa de botão, pra parecer mais sério. O sapato que não via a cor de uma graxa fazia tempo estava reluzindo. “Um marrom achocolatado, pra combinar com a pele dela”, pensava exultante. Seu Inácio nunca foi gordo, mas também não era um exemplo de corpo atlético. Era, digamos, normal. Cabelos, ainda tinha de sobra, pode acreditar! Uma das coisas que adorava era não ter herdado o gene da calvície precoce. Maravilha!
Pronto, já estava na porta da cafeteria. Como de costume, lá vinha Gysele abrir a porta de vidro. “Boa noite”, e após entrar “O senhor deseja alguma coisa?” Ele poderia ter respondido que não. Que só de ouvir essa saudação seu coraçãozinho velho e moído ganhava um fôlego extra. Quanto custava a saudação? “Vou escolher na vitrine primeiro, obrigado. É pra minha neta sabe?”. Gysele deu um sorriso cortês e se afastou. Tudo bem que ela dizia a saudação pra todo mundo que entrava ali mas....ele jurava que o “o senhor deseja alguma coisa?” dela pra ele tinha algo de especial.
Enquanto matutava sobre isso, o céu desaba em chuva do lado de fora. É, não tinha jeito. Nada de sair correndo. O destino parecia estar obrigando esse velho idiota a finalmente tomar uma atitude.
Inácio se senta à mesa e pede um café com leite – ao menos com leite ele tomava. O local era pequeno, tinha apenas quatro mesas. Na do cantinho, estava um casal de namorados (decididamente apaixonados. Dava pra perceber pelos beijos). As do meio estavam vazias. Ele ocupava a mesa mais próxima do balcão, onde estava Gysele.
Levanta-se da mesa, dirige-se ao balcão. Começa a tentar fazer as perguntas habituais. Quanto tempo de trabalho, se gosta do trabalho etc. Cada resposta vem como uma gota de adoçante num café expresso: pequena, simples e sem graça. Não era preciso ser comunicólogo pra entender o que as respostas monossilábicas significavam. Ele era mais um cliente. Mais um. E só.
E se ele fosse sincero? Se apenas dissesse que aquele “o senhor deseja alguma coisa?” significava tanto pra ele? Nem os filhos, quando ligavam – e olhe lá – o chamavam mais de “senhor” com tanto carinho e emoldurado num sorriso daqueles!
Debruçado sobre o balcão de vidro, cabeça baixa, olhos fixos numa torta de chocolate, Inácio olha de canto para o casal do cantinho. A garota também olha rapidamente, cochicha algo no ouvido do namorado e ambos começam a rir baixinho.

“Que diabos estou fazendo aqui?” Paga o café, dá um boa noite para Gysele – o último – e vai embora. Já nem percebe se continua a chover ou não. Ela não servia para os clientes um cálice de água tônica, junto com o café expresso? Então! Ele precisava de água. Precisava tirar o gosto daquela xícara de café com leite. E precisava tirar o gosto que nunca ia sentir.

16 comentários:

MaxReinert disse...

....ok , ok... o texto até pode ser bem escrito e tal... mas quem vai amenizar minha Ira!!!!????
E eu achando que era o único homem a andar nessas paragens.... humpffff... mulheres!!!... não deixaram nem o cadáver esfriar.....

hauhauhuahauhauhauhauhauhauhuaa

bjzzzzzzzzzzzz

Anônimo disse...

Preciso de alcool pra ler isso d novo!


duhahuda

Isa Dora disse...

O texto é muito fofo. Adorei, viu. E, até sei como ele se sentiu. Eu já passei por isso, a incerteza e insegurança de não saber o q fazer! De não saber se vai dar certo...

Adorei.

Anônimo disse...

Olha.... só posso dizer uam coisa SHOWWWWWWWWWWWWWW!!! Tb preciso de uma dose mais... hahahahah.

Anônimo disse...

SHOW!!!!
adorei seu blog!
bjus

- insideabreak disse...

hehe todo mundo adora, adora, adora... tive uma queda pelo seu template, adoro pin-ups!
pretendo visitar mais vezes...

reflexões disse...

muito bonito mesmo. O texto, o template, tudo!!! Fiquei aqui, imaginando a cena e sentindo a insegunraça q ele sentiu!!!!

Anônimo disse...

Nada pior que a incerteza seguida à desilusão! =\

Eh, eu me identifiquei! ¬¬

Beijos!

Anônimo disse...

a alma ainda jovem cansa frente ao corpo que conspira...

Anônimo disse...

Olá meninas!
Bem, eu não ando tendo muito tempo pra ler tudo aqui (e nem nos outros blogs). Me desculpem por isso...
Mas gostaria de fazer um convite. Queria repassar um meme que coloquei em meu blog: "As 5 invenções mais valiosas da humanidade". Como sei que as ladies adoram um desafio e são ousadas, queria ver qual seria a resposa de vocês! Topam? E, se quiserem, convidem mais gente pra participar...

Beijos e prometo voltar aqui com tempo!

MizLilian

ChickØ Martins disse...

"A garota também olha rapidamente, cochicha algo no ouvido do namorado e ambos começam a rir baixinho."

essa aí matou o velhinho...



E a solidão do coroa, tão cruel que o fez confundir a cordialidade mecânica de uma atendente com sentimentos verdadeiros...


Muito triste.

Anônimo disse...

Nah, não precisa ter pressa quanto à lista não... o importante é que participem. Só quero ver que invenções vocês vão escolher, rsrsrsrs...
Beijões! vou pôr a leitura em dia!

Anônimo disse...

Que texto. Ah, a solidão. Coisa mais cruel...
Engraçado, ele, um senhor já de idade, agindo como um menininho ingênuo que se apaixona pela primeira vez... adorei!

Mk. disse...

muito linda a história, amei.....
passo aki sempre e sempre deixo meu comntário.... adoro seus posts são lindos.. bjos

Anônimo disse...

Fico deveras agradecido com os comentários. Aproveito para agradecer o convite das meninas, integrando a equipe de "despudorados" do Blog.

O próximo post ainda vai tratar da insegurança afetiva...aguardem!

Geórgia Damatis disse...

Adorei seu blog e a forma como escreve. Um espaço feminino bem bacana.
Um abraço!