terça-feira, 31 de julho de 2007

Panela velha é que faz comida boa?

O orgasmo masculino é explícito, evidente e líquido. O feminino é um mistério, inclusive para muitas de nós. Mas, por incrível que pareça, a tendência é que, conforme os anos passam, as névoas se dissolvam um pouco mais... Além de repleto de mistérios, nosso prazer foi vitima de preconceitos durante toda a história. Já começa com a lenda de Lilith, a primeira mulher de Adão, que teria sido expulsa do Paraíso porque não aceitava ser passiva durante as relações sexuais. Pode? O pior é que a perseguição cristã ao gozo feminino não ficou por aí: na Idade Média, as mulheres que “chegavam lá” eram consideradas bruxas e iam direto pras chamas (da fogueira e do inferno). Tsc tsc... Não é à toa que com toda essa carga ideológica muitas mulheres acabam demorando pra descobrir o que há demais numa relação sexual. Muitas morrem sem saber o que é uma boa gozada nem o porquê das amigas gostarem de sexo! Olhe bem para a foto acima. Os lábios permanentemente úmidos, os olhos semi-cerrados e delineadíssimos, o corpo de violão mais sexy e fotografado da década de 1950... Marilyn Monroe reinou soberana nas telas e nas fantasias masculinas desde 1953, quando fez sua primeira protagonista, no filme Niagara, até a sua morte, nove anos depois. Era o sexo em forma de mulher, não tanto pelas suas personagens, loiras bobinhas e aproveitadoras, mas pela imagem que cultivava. Na ultraconservadora América dos anos 50, na qual a imagem da mulher era a dona-de-casa perfeita de saias rodadas, declarar usar apenas duas gotas de Chanel nº 5 para dormir era como acender o pavio de um coquetel Molotov. De fato, Miss Monroe casou várias vezes, colecionou amantes, era desejada no mundo todo. Mas declarou ao seu analista, em 1961, que nunca conseguira ter um orgasmo. Como? PAREM AS MÁQUINAS! Marilyn Monroe, a mulher que alimentava as fantasias sexuais, capa da primeira Playboy da história nunca tivera um orgasmo. Na época da sua morte, que completa 45 anos no próximo dia 05, a atriz ainda estava se descobrindo, a pedidos do analista, com a boa e velha masturbação. “Nunca chorei tão forte quanto na primeira vez em que gozei de verdade”, declarou ela. Se o mito morreu sem conseguir chegar lá em uma relação a dois, isso não se pode afirmar com certeza. Mas o paradoxo Marilyn ainda é realidade para muitas mulheres. A gostosona da sua vizinha, que atrai todos os olhares com as calças gang justíssimas e decotes na cintura mostrando o corpo esculpido a fome e horas de academia, pode ser pura propaganda enganosa. O que acontece, na verdade, é que com toda aquela coisa do sexo ser visto como pecado, acabamos levando um caminhão de fantasmas para a cama e, com isso, não há relaxa e goza que dê jeito... Junte isso às oscilações hormonais, e todos aqueles males modernosos: ansiedade, fobias, estresse, depressão e aquela conhecida neurose pelo corpo de modelo e pela vida profissional ultra-bem-sucedida... Pobre orgasmo! Como dá as caras desse jeito? Calma, não entre em desespero. Isso passa! Balzac, por exemplo, mesmo lá no longínquo século XIX, já falava sobre as vantagens do amadurecimento: “Uma mulher de trinta anos tem atrativos irresistíveis. A mulher jovem tem muitas ilusões, muita inexperiência. Uma nos instrui, a outra quer tudo aprender e acredita ter dito tudo despindo o vestido. (...) Entre elas duas há a distância incomensurável que vai do previsto ao imprevisto, da força à fraqueza. A mulher de trinta anos satisfaz tudo, e a jovem, sob pena de não sê-lo, nada pode satisfazer”. Em suma: a partir daí é que a brincadeira fica boa! Prova disso são diversas histórias de mulheres que só conseguem experimentar o orgasmo anos após a primeira vez... Francy, por exemplo, casou virgem e apenas nove anos depois do casamento conseguiu saber por que sexo era bom: “Fui ao ginecologista diversas vezes e só tive resultados quando fui encaminhada pra terapia. Minha vida mudou. Percebi que desconhecia totalmente meu corpo, não tinha idéia nem de como era a minha vagina. Passei a me descobrir, a olhar meu corpo e a desenvolver minha sexualidade. Nem sabia o que era masturbação, só descobri aos 32 anos e foi assim que tive meu primeiro orgasmo. Meu marido, ainda bem, sempre me apoiou”. Já Helena, de 54, sempre teve uma boa relação com o corpo. “Nunca tive problemas, adoro sexo. Acontece que, conforme os anos passam, as preocupações diminuem: não há mais medo de engravidar, os filhos também saem de casa, não existem mais aquelas preocupações chatas de “vencer na carreira”, etc. e, com isso, você tende a relaxar e aproveitar cada vez mais. O sexo fica mais duradouro, mais centrado no prazer de dar e receber. Não há tanta pressa com as preliminares, o que conta mesmo é a imaginação. Com tudo isso, é mais fácil de se “chegar lá” ainda mais vezes. O que acontece é que a gente precisa ter mais paciência não só com a ereção, que demora um pouquinho mais, como também com a nossa lubrificação, que com o tempo diminui. Agora imagine um casal de vinte e poucos anos vivendo isso? Ninguém transava mais! Aos 50 não há pressa, só desejo de ser feliz”. É uma questão de manter-se atenta aos sinais do corpo. Para isso, cada período de nossas vidas funciona como uma espécie de escola. Enquanto o pessoal pensa que a juventude é a "época áurea do sexo", a verdade é que com o passar dos anos, as coisas tendem a ser mais satisfatórias, principalmente porque a gente aprende a dar mais a cara a tapa, a errar para mais tarde acertar e a ver o quanto isso é bom, sem inibições. É na maturidade que a mulher se apropria do prazer. * com a colaboração de Lady in White.
Os nomes das entrevistadas são fictícios para preservar suas identidades.

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