quarta-feira, 11 de julho de 2007

Vento de maio

Trânsito infernal. Um congestionamento básico às sete da manhã, o de praxe. Resolvo ligar o rádio pra tentar relaxar e adivinha que música toca? Vento de maio... Embora estejamos em outubro, as recordações começam a vir à tona... E lá vou eu cantarolando: Sol, girassol e meus olhos ardendo de tanto cigarro e quase que eu me esqueci que o tempo não pára nem vai esperar... Vento de maio, rainha do raio de sol... (*) E lá vêm as lembranças... Pelo menos não doem, pelo contrário: chegam em mim como soprinho gostoso, paliativo pro calor do engarrafamento... Há cinco meses, meu chefe pediu que eu fosse a um congresso em Buenos Aires, na área de criação, que é justamente o segmento com que trabalho. Meio a contragosto, já que ele me avisou em cima da hora e tive que desmarcar um monte de compromissos, lá fui eu pra capital argentina dois dias após aquela chamada. Já no avião, senta ao meu lado um jovem senhor. Devia ter uns quarenta anos, olhar doce, cara de quem adorava Ella (não me pergunte como é essa cara, é instintivo!)... Eu sou tímida, detesto puxar assunto, mas sabe lá Deus por qual loucura do destino começamos a bater papo e, só com aqueles momentos do vôo, já parecíamos amigos de infância! Juro que nunca imaginei que poderia me divertir tanto em uma semana de congresso, nem nos tempos da faculdade! Quando não estava em meio às chatices de palestras e debates, ligava pro meu amigo que, como bom e simpático argentino, me ciceroneava pelas ruas portenhas. Os versos de Jorge Luis Borges começavam a fazer sentido na minha cabeça: A mí se me hace cuento que empezó Buenos Aires: La juzgo tan eterna como el agua y como el aire. Eterna sim, senão não estaria aqui, sem precisar de tango, contando só com a voz da Elis Regina... Meu amigo, quando não estava trabalhando, me punha a fazer os programas mais variados, na maior parte das vezes fora dos roteiros turísticos corriqueiros: piqueniques, show de tango alternativo, brincar de bola na praça, cantar absurdos no meio da rua, comer pipoca sentindo o gélido ventinho de outono em nossas faces... A semana terminou, chegou a hora de voltar. Na despedida, ele foi me deixar no aeroporto e me entregou Vento de Maio copiada a mão e gravada em uma fita cassete. Disse que ao ouvir, lembrava de um dos nossos primeiros passeios, quando a cantamos em uma praça debaixo de chuvisco, sem medo algum do ridículo. Vez ou outra chegam umas cartinhas dele. A última tem uma previsão de visita à terra brasilis nas minhas férias. Perfeito! Só preciso lembrar de alguma canção que fale de janeiro...
(*) Composição de Telo e Márcio Borges.

2 comentários:

Lizy disse...

que legal! adorei essa historinha!
vc é publicitaria????????


:*

Isa Dora disse...

Hehehe. Certas coisas nos surpreendem muitas vezes...
:)