sábado, 7 de julho de 2007

Sobre traição – Parte 1

Início de ano letivo na escola. Eu estava na 8ª série. Era um daqueles dias em que a gente acorda cheio de expectativas, como se algo bom estivesse prestes a acontecer. Foi assim quando nos conhecemos... A princípio, não gostei do que vi. Não fazia o meu tipo. Parecia tão bobo e desengonçado... Além do mais, eu tinha acabado de conhecer o meu primeiro namorado. Meigo, bonito, delicado, charmoso, sensível... Era o que me satisfazia... Só tinha um probleminha: quase não tinha tempo. Aulas, trabalho, família... Como ele era complicado e eu, perdidamente apaixonada...
Mas o que eu não conseguia entender era que se estava mesmo tudo bem porque aquele outro tinha chamado tanto a minha atenção? Fui conferir. Com o tempo, viramos amigos. Entrei para o seleto grupo de marmanjos. Foi muito divertido acompanhar de perto as incertezas e os problemas do mundo masculino. Por pouco tempo. Lamentavelmente, a presença da única mulher incomodou tanto que eles se separaram...
Sobramos nós dois. Conversávamos tardes inteiras... e brigávamos também. O namorado ficava com ciúmes... Mas ele, em vez de se afastar, nem dava bola. Era chato e me deixava confusa. Fazia eu me sentir ora mal, por plantar qualquer dúvida de infidelidade, ora bem, por me valorizar e ter autonomia para me relacionar com quem quisesse independente da opinião do meu amado. Talvez ele tenha sido responsável pelos primeiros traços de feminismo na minha personalidade.
Atencioso, e às vezes, irritante foi, à sua maneira, conquistando espaço em minha vida. As tardes já não eram suficientes. Passou a ir à minha casa, conheceu minha família. Até meu pai, que ainda me via como uma menininha, percebeu que havia algo mais... Na tentativa de ser moderno, me chamou pra conversar. Falou sobre namoro e sobre o meu amigo. Eu bem que tentei argumentar. “Não! Somos só amigos! É verdade!!!” Mas foi em vão... Ainda mais porque ele não ia entender nunca se eu dissesse que namorava um, mas andava pra cima e pra baixo com outro.
Acho que só eu não conseguia enxergar. Estávamos tão ligados que não havia como negar. Era muito mais que amizade... E recíproca... Ainda assim, não era mais forte do que eu sentia pelo namorado fantasma. E ele sabia disso, mas não se importava... Um dia me roubou um beijo, e depois outro, e outro...
E foi assim que, durante o primeiro namoro da vida, eu tive também o meu primeiro amante. Com apenas 13 anos de idade...

Um comentário:

Anônimo disse...

Pela delicadeza do texto essa última frase quase passa por normal, quase! Primeiro amante aos 13 anos.

Caramba, terei que ler o resto do blog.